Eu sou mais forte

Jovens de elite lutadores espancam um jovem de periferia até a morte. O dinheiro e a influência das famílias deles vão intimidar a justiça e afastar testemunhas, perpetuando a impunidade. <br> Os espancamentos aleatórios são um fenômeno urbano brasileiro. Desde o caso do índio Galdino, esses episódios de fascismo de elite têm aparecido com certa freqüência na mídia. São bastante sintomáticos da condição existencial de parte da juventude de alto poder aquisitivo, descendentes violentos do Brás Cubas de Machado de Assis e que contemporaneamente Rubem Fonseca retratou nos seus contos. Essa é uma violência tipicamente brasileira. Como disse um dos espancadores: "Eu sou jovem, tenho que me divertir, antes de ficar mais velho e assumir a empresa do meu pai." <br> Sobre este pano de fundo, reflexo dessa espécie de apartheid brasileiro, estão tecidos os conflitos dramáticos. <br> Dani e 3P nos apresentam as ambigüidades de ser jovem neste mundo minado. Dani se envolve "na balada" com os espancadores: jovens, ricos, "sarados", com um charme cínico e poderoso. Apesar de ser policial, 3P também se deixa seduzir por esse jeito de ser agressivo e "poderoso" – em última instância, de elite. <br> O subtema das mães protegendo seus filhos perpassa o episódio. O foco principal está em Luísa, que, com medo de represálias, não quer que Dani, testemunha ocular do crime, deponha. A mãe de um jovem pobre, vitima e testemunha, também evitará que seu filho se apresente à polícia. E, no pólo oposto, a mãe do jovem de elite defenderá seu filho coagindo testemunhas e mobilizando suas influências. <br> Essa presença das mães dramatiza o conflito entre valores públicos e privados, que se expressa no episódio também em termos mais gerais – principalmente no confronto entre Eduardo e Horácio –, retomando e concentrando uma pergunta que está também em outros momentos da série: a justiça é mesmo para todos?